quarta-feira, 4 de abril de 2007

Kakus


Um dos "costumes" das pessoas aqui da ilha era, e às vezes ainda o é, colocarem o lixo não orgânico nos muros ou num local determinado do terreno perto da casa. Assim, ainda hoje se encontram garrafas, solas de sapatos, sapatos, panelas velhas, pilhas, latas de atum, entre muitas outras coisas que por vezes me arrepiam outras me fascinam...

Foi exactamente quando me mudei, e ao limpar terreno para fazer a minha horta que fui encontrando cacos e mais cacos de peças de barro comuns e dos antigos pratos, sopeiras, jarros, chávenas, etc, de loiça feita e pintada do barro aqui mesmo desta ilha, de Santa Maria.
A olaria da ilha sempre me tinha cativado e agora tinha os restos, quase jurássicos, de uma arte infelizmente desaparecida.

Fui guardando todos os cacos que encontrei e cada nova descoberta me trazia ao pensamento de que um dia tinha de lhes dar outra vida. Passei a procurá-los nos muros por onde passava e cada vez crescia mais o meu espólio... o meu tesouro. Até que um dia... encontrei o resto de uma tigela de servir. A base estava intacta e a forma convidava a aproveitá-la já. Foi nessa altura que experimentei misturar algumas cores da massa fimo que tinha em casa e cobrir a beira deste caco para o poder usar como fruteira ou coisa assim.

Depois deste "parto", fazer renascer os restantes pedaços em colares, alfinetes ou incensários, conforme a forma e o tamanho que apresentavam, foi um passo ... assim começou esta aventura de "kakus".

4 comentários:

Judite Fernandes disse...

É isso companheira, é maravilhoso ver-te parir! (caganda tigra da malásia!!)

Fatinha disse...

lindo! Muita força e sempre prá frente. muitas beijocas

descalças disse...

é um orgulho ver o meu kaku na net, num blogue teu cheio de futuro. E o mais incrível é que essa paixão por kakus também mora aqui deste lado do meu olhar... também os tenho guardados, os da nossa horta com vista para o mar, e também o meu espólio se vai recheando de tesouros cada vez mais inebriantes e todos os dias. Vá lá alguém compreender o que nos atrai nesses pedaços de loiça... quem sabe um dia os nossos kakus se juntem para uma festa e difundam a paz? beijos grandes. maria descalça

Márcia Catarina disse...

Amigas, demorou mas cá me sentei a escrever.
Obrigada pelos comentários, pelo carinho e muito especialmente pela inspiração afinal todas vós fazem parte de mim e deste processo que é parir coisas com as mãos.

Beijos e mais beijos
Márcia